quinta-feira, 29 de outubro de 2009

POLÍTICA DOS TORRESMOS

(recebido por mail)

Portugal vive a duas velocidades. A da velocidade do TGV e a do "comboio dos torresmos" da Refer e da CP. A rapidez que se promete para quem quer ir de Lisboa a Madrid sonega-se a quem tem de ir de Vendas Novas a Évora.
É a normal anormalidade da estratégia ferroviária do País. Os anunciados encerramentos, para obras, de mais de duas centenas de quilómetros de linha férrea juntam- -se à que está abandonada e à que foi desactivada. Sobretudo na ligação ao Interior do País.
Brevemente será mais rápido ir de comboio de Lisboa a Paris do que de Lisboa ao Tua. Às vezes ficamos a pensar que, em nome da modernidade das nossas comunicações externas, há uma comissão liquidatária da rede ferroviária nacional.
Afinal, se tivermos um comboio super-rápido entre Lisboa e Madrid, para que é que necessitamos de tantas centenas de linhas de comboio entre localidades no Interior, que só têm custos e não geram receitas?
Esta estratégia, seguida com o rigor de um "Terminator", tem vindo a colocar as ligações nacionais na mão das auto-estradas. Enquanto lá fora se volta a olhar para os comboios como um meio de transporte do futuro, aqui desmantela-se o que há. Se se encerrarem vias férreas durante meses, as pessoas desabituam-se de andar nelas. E, depois, há a mágica opção pelo fecho, por falta de utilizadores. O País pretensamente moderno tem vindo a aniquilar, com cicuta, o interior do território, desertificando-o.
Os partidos políticos também fingem não ver: discutem o TGV, esquecem o resto.

Fernando Sobral
fsobral@negocios.pt

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